Acidente no Instituto Butantã

Tem horas que é mais difícil que o normal escrever artigos aqui no Down House.
Neste sábado (15/05) uma tragédia abateu-se sobre o famoso Instituto Butantã, um incêndio de grandes proporções acabou com o laboratório de herpetologia, mas não foi só isso que o fogo levou.



Infelizmente o incêndio levou para sempre a maior coleção de serpentes do mundo, com mais de 70.000 espécies e 85.000 amostras destes animais, além de 450.000 aracnídeos dos quais muitos eram extintos e outros ainda nem descritos.
Conservados em formol e álcool as amostras se tornaram um combustível fácil para o fogo, que durou apenas duas horas e acabou por levar mais de 100 anos de pesquisas científicas do nosso país.

Não foram somente os pesquisadores que sairam perdendo, sem dúvidas esta tragédia vai complicar a vida de muitos alunos de iniciação científica, muitas teses de mestrado e doutorado serão prejudicados, mas a maior perda mesmo é de todos nós, brasileiros, que em meio as chamas perdemos uma grande parte da história do desenvolvimento científico de nosso país.

A seguir na integra a declaração sobre o caso de Hussam Zaher diretor do Museu de Zoologia da Usp e Miguel Trefaut professor do Instituto de Biociências da Usp ao estadão.

Há séculos o homem acumula exemplares de plantas e animais em museus de história natural. Da mesma forma que bibliotecas guardam a memória da humanidade em obras impressas, as coleções científicas guardam o conhecimento sobre a biodiversidade do planeta em organismos preservados. Para quê manter essas coleções científicas? A pergunta é necessária diante da tragédia que atingiu o Instituto Butantan, onde um incêndio destruiu as coleções científicas de serpentes, aranhas e escorpiões.
A tragédia terá repercussões ainda não estimadas. O acervo representava um extraordinário banco de dados que documentava a história das serpentes e dos processos que levaram à sua origem e diversificação. Documentava também a própria história da ocupação humana no Estado por meio dos registros de cobras recebidas pelo Instituto ao longo do século passado.
Infelizmente, esta foi uma tragédia anunciada pois a coleção carecia de condições de segurança adequadas. Uma situação nunca resolvida, apesar dos inúmeros alertas feitos por pesquisadores.
Lamentamos profundamente o ocorrido e esperamos que o País passe a dar atenção devida às nossas coleções. Caso contrário, poderemos sofrer outras perdas da mesma magnitude. Coleções centenárias como as do Museu de Zoologia da USP, Museu Nacional da UFRJ e Museu Goeldi, no Pará, carecem de prédios adequados, e estão na mesma situação de risco.
Sem esta tomada de consciência, de nada vale ostentarmos o título de país detentor da maior biodiversidade do planeta. Perdemos nessa tragédia parte importante da memória nacional e a chave para compreender muito de nosso passado e nosso futuro. É fútil falar em preservar a biodiversidade se não assumirmos que nossos museus precisam de condições adequadas para que o seu patrimônio não encontre o mesmo destino das coleções do Butantã. Que essa tragédia sirva de lição.



Será que com tudo isso um dia podemos esperar que as condições de pesquisa em nosso país melhorem?
Que se de mais valor aos pesquisadores que precisam implorar por verbas ao nossos próprios órgãos governamentais?

Quero acreditar que sim.

2 comentários:

Luiz Bento 18 de maio de 2010 às 15:08  

É triste ter que acontecer isso para que algo melhore. Mas é a nossa realidade...

Pablo Lopes Moreno 19 de maio de 2010 às 10:05  

Pois é Luiz, uma triste realidade que só quem vê de perto a pesquisa no Brasil que sabe como é...

Tento pensar que a coisa vai melhorar, mas...

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