Evolução também na Cena do Crime

Um crime aconteceu, uma enfermeira foi infectada criminosamente com HIV, o principal suspeito é seu próprio namorado!

Duvido que o leitor nunca tenha assistido ou ouvido falar da série de televisão chamada CSI, onde um grupo de peritos criminais utilizam a ciência para desvendar os mais diversos casos.
Mas neste caso que  tipo de investigação será feita para solucionar o crime?
Acredite se quiser meu amigo, mas para resolver esse caso utilizaram do conhecimento que temos sobre evolução das espécies.

No referido crime um Gastroenterologista foi acusado de infectar com HIV tipo 1 propositalmente sua namorada utilizando uma seringa e a desculpa que iria aplica-la uma dose de vitamina C.
Depois de algum tempo a vitima começou a ter problemas de saúde e foi diagnosticada por médicos como sendo portadora do terrível vírus da AIDS.

Acusação afirmou que o namorado havia utilizado uma amostra de sangue de um dos seus pacientes, mas como provar que ela não havia se contaminado sozinha com HIV através do uso de drogas ou com sexo extra conjugal?

Bom caros meus caros Gnasthostomados é ai que entrou um grupo de pesquisadores da universidade da Califórnia e uma área da biologia evolutiva chamada Sistemática Filogenética.

Para quem não sabe a Sistemática  Filogenética estuda as relações evolutivas de um determinado grupo de organismos utilizando dados moleculares ou morfológicos a fim de construir gráficos (fig.1) que ilustrem essas relações entre ancestrais e descendentes.
Fig.1: Cladograma ilustrando as relações filogenéticas entre vários grupos de peixes ósseos.


Sabendo isso e que vírus também possuem DNA ou RNA no caso do HIV passível de mutação  os pesquisadores recolheram amostras da suposta vítima, do frasco do paciente de seu ex e da população local soro positiva com  HIV-1.
Dessas amostras isolaram alguns genes de evolução rápida e lenta  como o  858-bp env 1,147-bp reverse transcriptase, em seguida os replicou através da técnica de PCR para entender as taxas de mutação e compara-las com os grupos de infectados.


Analisando esses dados os pesquisadores conseguiram descobrir qual amostra de vírus é o ancestral do contraido pela paciente.

E adivinhe só quem se deu mal ??

O resultado mostrou que o HIV-1 que infectou a vítima veio das amostras do paciente guardadas pelo seu ex namorado e não da população local  formando dois clados como você pode ver nas  figuras 2 abaixo.






Fig.2: Acima 
análise filogenética da região gp120 demonstrando 100% de suporte para a filogenia entre o vírus da vitima e do paciente do gastroenterologista. Abaixo a análise filogenética da região da transcriptase reversa (RT) mostrando mais uma vez 100% de suporte para esta arvore filogenética. Em (a) Arvore baseada na sequência de BCM e em (b) a sub-arvore das sequências do paciente e da vítima.

Isso também mostra que não foi a ex namorada que infectou o paciente com seu HIV-1 já que a amostra dela possuia mais mutações do que o do paciente do médico em questão.

Por fim o criminoso  foi condenado pela Justiça da Louisiana a 50 anos de prisão por tentativa de assassinato.

Este é um exemplo claro de que pesquisas em áreas diferentes podem trazer contribuições inesperadas para a sociedade, quem imaginaria que estudar evolução das espécies poderia solucionar um caso de tentativa de assassinato?

Sem dúvidas o perito Gil Grisson da série CSI ficaria bem orgulhoso de Metzker e seus colaboradores.



Bibliografia Utilizada:


ResearchBlogging.org
Metzker ML, Mindell DP, Liu XM, Ptak RG, Gibbs RA, & Hillis DM (2002). Molecular evidence of HIV-1 transmission in a criminal case. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, 99 (22), 14292-7 PMID: 12388776

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